A flor-de-lótus da Índia e a do Egito: saiba as diferenças, suas características e simbolismos

O Lótus-sagrado 

O lótus-sagrado ou flor-de-lótus é a designação para algumas plantas aquáticas carregadas de simbolismos muito difundidos principalmente pela cultura indiana e pela cultura do Antigo Egito.

Porém, as plantas associadas a essas duas culturas são plantas distintas. A flor-de-lótus da Índia é a planta da espécie Nelumbo nucifera, e a flor-de-lótus associada ao Antigo Egito são duas ninféias: a espécie Nymphaea lotus e a espécie Nymphaea caerulea.

A flor-de-lótus da Índia

  • Espécie: Nelumbo nucifera
  • Família: Nelumbonaceae
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Flor rosa do lótus indiano

O lótus-da-índia ou lótus-sagrado-indiano é uma espécie de nome científico Nelumbo nucifera. Essa planta é nativa da Ásia tropical e norte da Austrália e considerada a flor nacional da Índia e Vietnã.

Ela é uma planta aquática rizomatosa, seus rizomas ficam enterrados no fundo de ambientes aquáticos que são os lagos, lagoas, represas, pântanos e rios de pouca correnteza e profundidade e de onde surgem seus longos pecíolos que sustentam as grandes folhas arredondadas. No inverno a planta perde todas as suas folhas e vive através dos rizomas enterrados até ressurgir na primavera.

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Folhas acima da água

Suas folhas, ao contrário das ninfeias, ficam bem acima da superfície da água, elas possuem capacidade de autolimpeza através de microestruturas complexas hidro-repelentes, não permitindo adesão de lama, o que favorece as trocas gasosas pelos estômatos foliares.

As flores de cor branca ou rosa surgem de longos pedúnculos que também saem das profundezas. Daí nasceu o dito popular que a flor-de-lótus surge do caos, renasce da lama em direção à luz.

Elas excedem a altura das folhas, desabrocham ao amanhecer e se fecham à tarde. E ao contrário do que muitas vezes é divulgado, a flor ao se fechar não submerge novamente na água para ressurgir no outro dia, mas apenas se fecha permanecendo fora da água para reabrir no dia seguinte.

Após o período de floração, que dura três dias, as pétalas caem deixando exposto uma cápsula que após seco adquire textura amadeirada e que serve para utilizar em arranjos de flores secas. São nessas cápsulas que se encontram as sementes, que aliás, são como castanhas comestíveis, assim como as outras partes da planta; seus rizomas, pecíolos, folhas e até as pétalas servem para consumo sob diversas formas na culinária asiática.

Um fato interessante sobre o lótus indiano é sobre a longevidade germinativa das sementes. Jane Shen Miller, pesquisadora da Universidade da Califórnia, comprovou com estudos científicos, através de  técnicas modernas que permitem a datação precisa por radio carbono, que uma das sementes encontradas onde existiu um lago seco, no nordeste da China, e que foram germinadas, possuía idade de 1288 anos. Segundo o estudo essas sementes possuem em seu DNA capacidade de autorregeneração para sobreviverem em ambientes de estresse.

Simbolismo

A flor-de-lótus da Índia ganhou simbolismos e status de planta sagrada associados ao hinduísmo e budismo. Nessas tradições, o lótus é reverenciado e retratado com as divindades.

Para hindus, o lótus simboliza a criação, devido a crença que Brahma, criador e deus do universo, surgiu de uma flor de lótus. Além de ser retratado às outras divindades Vishnu, Lakshmi e Sarasvati, representando pureza, beleza, prosperidade e fertilidade.

Para budistas, o lótus representa a pureza do corpo, da fala e da mente, representa a iluminação e também longevidade. Nessa doutrina o Buda é muito retratado sentado sobre a flor-de-lótus.

Existe também o lótus de nome científico (Nelumbo lutea) de flores amarelas e originário da América do Norte, mas esse lótus não tem status de planta sagrada.

A flor-de-lótus do Egito

  • Espécies: Nymphaea lotus Nymphaea caerulea
  • Família: Nymphaeaceae
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Nymphaea lotus

As duas ninféias que remetem a planta sagrada do Antigo Egito são as espécie: Nymphaea lotus (o lótus branco do Egito), e a espécie Nymphaea caerulea (o lótus azul do Egito).

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Nymphaea caerulea

Mas atualmente, essas duas espécies são mais conhecidas popularmente apenas como lírio-d'água e ninféia. 

Elas são nativas do continente africano e algumas partes da Ásia. São ervas aquáticas fixas, perenes, rizomatosas, de folhas flutuantes, arredondadas e com entalhe até a base onde está inserido o pecíolo. Elas também possuem em suas folhas, cutícula hidro-repelente para se manterem limpas afim de facilitar a respiração.

Seus rizomas ficam enterrados no fundo de ambientes aquáticos de águas calmas e rasas. E por estarem em um local pobre em oxigênio, a planta desenvolveu em suas folhas, pecíolos e rizomas, tecidos com espaços intercelulares para facilitar o transporte de oxigênio por toda a planta. O que também favorece a flutuação de partes da planta.

Nas suas regiões de origem, os seus caules, sementes e tubérculos são utilizados na alimentação humana, e ainda utilizados na medicina de alguns países, como na Nigéria.

A flor do lótus branco do Egito (Nymphaea lotus) se abre à noite, possui pétalas alvas ou ainda róseas e numerosos estames amarelos. 

Já a flor do lótus azul (Nymphaea caerulea) se abre pela manhã e se fecha no início da tarde, possui pétalas azul-celeste e numerosos estames amarelos com extremidade lilás. Essa flor após se fechar, permanece na superfície da água para reabrir no dia seguinte, dura cerca de três dias e possui um delicioso perfume inebriante.

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Folhas flutuantes



Simbolismo

O lótus azul do Egito simboliza o nascer do sol, o nascimento divino, a criação e renascimento, ele é o mais retratado na mitologia egípcia; em hieróglifos, esculturas, templos, objetos de uso pessoal e em tumbas de sacerdotes e faraós.

Em muitas imagens ligadas a ritos funerários, o lótus faz referência a passagem para a vida após morte, o renascimento.

Uma variante da mitologia afirma que só existia um oceano primordial e que após surgir nessas águas um grande lótus-azul, ao abrir-se, irradiou a luz do deus solar Atum, dando inicio a criação do mundo.

Essa planta também é o símbolo da divindade Nefertum, o deus da cura, da beleza e dos perfumes. Segundo a mitologia, Nefertum era um aspecto do deus Atum ainda jovem e teria surgido como criança de uma flor-de-lótus. 

Nefertum é sempre retratado em estátuas com coroa de lótus na cabeça, algumas foram encontradas em tumbas de faraós, pois o povo do Antigo Egito acreditava que a estátua desse deus, assim como a flor-de-lótus, lhes davam força, poder, cura, boa sorte, proteção e vida eterna.
Em várias representações, deuses, reis, rainhas e faraós estão cheirando a fragrância do lótus-azul, de fato, um perfume dos deuses.

Como plantas ornamentais, tanto o lótus egípcio quanto o lótus indiano são plantas muito procuradas para essa finalidade, mas requerem atenção, pois podem se tornar plantas invasivas em ambientes aquáticos de pouca profundidade e rico em nutrientes.


Assista ao vídeo sobre o lótus-sagrado-indiano:


Assista ao vídeo sobre o lótus-sagrado-egípcio:


1 Comentários

  1. Parabéns pelo belo texto, conciso e muito informativo!!!

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