Por que espalhar sementes na natureza pode ser prejudicial?

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Entenda por que não se deve lançar na natureza sementes de frutas e outras árvores que não sejam nativas da região.

Espalhar sementes pela natureza é uma ideia e prática que sempre são incentivadas e compartilhadas nas redes sociais, principalmente em grupos, onde acabam alcançando um grande número de pessoas. A princípio, jogar sementes ou as chamadas bombas de sementes pode parecer uma excelente ideia para recompor áreas florestais, mas o problema está quando sementes de qualquer tipo são lançadas, sem que se tenha conhecimento sobre os riscos a vegetação nativa.

Mas qual os riscos por trás dessa boa intenção? Bem, antes precisamos falar brevemente sobre o que são plantas exóticas e invasoras

As espécies exóticas são espécies que não são originárias da região, no caso, são plantas que são introduzidas. Quando essas plantas exóticas se adaptam ao novo ambiente, se propagando com extrema facilidade, são chamadas de invasoras, pois invadem o território das espécies nativas causando impactos ambientais negativos.

Riscos de espalhar sementes exóticas e invasoras:


Os riscos ambientais de jogar sementes, sem critérios, ao fazer um passeio em meio à natureza, como uma trilha, podem ser muitos. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) a introdução de espécies (fauna e flora) exóticas e invasoras é a segunda maior causa de perda de biodiversidade do mundo, ficando atrás da fragmentação de habitats por ações humanas, ou seja, elas podem levar outras espécies a extinção.

Talvez você já tenha questionado: "Ah! mas umas sementes de frutas para alimentar os pássaros, que mal vai fazer?"

Na maioria dos quintais estão presentes espécies de frutíferas exóticas e também invasoras, de onde muitas vezes obtêm-se as sementes que se pretende lançar. Por exemplo, ameixa-amarela ou nêspera, abacate, amora, uva-japonesa, goiaba, jaca, jambolão, jambo, amendoeira, manga, mamão, entre muitas outras, são sementes de espécies estrangeiras que não devem ser disseminadas pelas matas.

O fato é que essas sementes podem acabar sendo lançadas próximas a remanescentes florestais ou diretamente neles, e isso pode causar sérios impactos negativos, entre eles:

  • Por não terem passado por controle fitossanitário, as sementes podem disseminar doenças para outras plantas.

  • As plantas oriundas dessas sementes, quando adultas, competirão com as nativas por espaço, luminosidade, nutrientes do solo e até por dispersão das sementes.

  • Uma planta invasora pode ter suas sementes mais dispersadas por meios naturais do que uma nativa, diminuindo cada vez mais a diversidade de espécies e agravando o problema ambiental.

  • Existem espécies exóticas invasoras que liberam no solo e até no ar substâncias tóxicas como estratégia de colonização. Essas substâncias, chamadas de aleloquímicos, inibem outras sementes de germinarem, prejudicam outras plantas adultas de absorverem nutrientes e, quando lançadas no ar sob forma gasosa pela espécie invasora, prejudicam até as outras plantas na realização da fotossíntese, entre outros danos.

  • As plantas invasoras muitas vezes impedem o estabelecimento de espécies nativas em uma área degradada por já terem dominado o local.

As espécies exóticas invasoras são tão prejudiciais que, após estudos, Moraes (EMBRAPA, 2012) concluiu que por meio da eliminação de plantas invasoras já pode ser suficiente para acelerar a recomposição de áreas florestais. Erradicar invasoras é um manejo que muitas vezes é implementado em reservas ecológicas para minimizar os riscos às plantas nativas.

Como espalhar sementes pela natureza sem riscos ambientais?


A técnica de dispersar sementes de forma artificial é eficiente e usada até por meio de aeronaves em programas de conservação, assemelhando-se com a dispersão natural, conhecida como chuva de sementes, afim de aumentar o banco de sementes do solo e reflorestar áreas. Como ocorreu no Vale do Ribeira - SP (12/2020), onde 1 tonelada de sementes de palmeira juçara foram lançadas, pelo Instituto Florestal, com pretensão atual de lançar mais 28 toneladas para recompor a área de Mata Atlântica, na Serra do Mar, com essa palmeira que é nativa do bioma e se encontra em risco de extinção.

Como vimos até aqui, o problema está nas espécies que não são nativas da região. Então você pode diminuir os riscos a partir da consciência sobre eles, e com critério de procurar saber qual espécie é nativa da região que se pretende lançar as sementes. A partir daí, conhecer sobre as sementes, saber se são de espécies apropriadas para o local, o que  parece óbvio né? mas muitas pessoas plantam sem ao menos saber do que se trata, na maioria das vezes porque ganharam as mudas ou as sementes "misteriosas".

E para finalizar, lembre-se sempre de nunca deixar restos de alimentos para trás e nem espalhar sementes exóticas ao passear pela natureza. Nas matas há uma diversidade enorme de frutos silvestres que os pássaros e outros animais dispersam com extrema eficácia, portanto, tudo que a natureza precisa para se regenerar é que ocorram menos plantas invasoras, menos queimadas e mais consciência ambiental.

2 Comentários

  1. Ótima publicação, agradeço pelas dicas! Quero muito espalhar flores nativas pelo meu bairro :)

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    1. Grato pela presença! Será ótimo para alimentar as abelhas.

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